
ATENÇÃO: MUITOS SPOILERS DE "A CHEGADA".
LEIA POR SUA CONTA E RISCO!
Esqueça tudo o que se baseia o tempo, a forma como nós analisamos o tempo, como estamos pessoa a sua linearidade, sua "mesmisse" de sempre, esqueça isso. Olhe além do que você possa ver, além do que você sente, sentiu e sentirá. É dessa forma que "A Chegada" de propõe a ser um dos melhores filmes da atualidade e Denis Villeneuve se consagrando um dos melhores do gênero.
Em momentos em que Hollywood cada vez mais controlada no que
produz e não apostando em filmes "fora da caixinha" esse filme cai
como uma pluma nessa situação complicada em que a principal industria do cinema
se encontra. "A Chegada" se propõe a ser o que ninguém espera, mas
surpreende pela qualidade de um excelente roteiro alinhado perfeitamente com um
bom diretor, ressaltando cada vez mais que filmes não precisam ter explosões ou
dramas que mesmo com qualidade, só existem para a exaltação de atores. Contar
uma boa história, pelo menos aqui, se faz mais importante do que todo o resto.
Em "A Chegada", acompanhamos Louise Banks, (Amy Adams) como uma professora especialista em linguística e em todas as outras variações que podem existir de estudos que envolve a comunicação. Louise é o centro do universo em que Villeneuve cria (universo não muito distante do nosso, diga-se de passagem) com maestria. O roteirista foi feliz em dar atenção devida a protagonista. A cena de abertura, belíssima, por sinal, introduz Banks e sua jornada como personagem, seus dilemas que a fizeram chegar onde ela está hoje. Subvertendo totalmente o padrão de roteiros que adotam o tempo de forma linear, essa cena de abertura tem um papel extremamente importante para a criação do plot do filme.
O diretor, consegue, com takes longos e planos
abertos/semiabertos, passar uma sensibilidade da vida de Louise, consegue
contar além de diálogos e falas, é uma junção perfeita entre o áudio, vídeo e
texto. Seguimos com essa personagem até o encontro com os seres que ocuparam a
Terra com algum proósito, e a missão de Louise é trabalhar junto com Ian
Donnely (Jeremy Renner), especialista em física, para descobrir o propósito dos
"Heptapods" nome dado por Ian aos visitantes.
Todo o visual do filme é digno de reconhecimento. De
tratamento de cor, efeitos em computação gráfica e a criação de conceitos já
batidos de seres extraterrestres.
"A Chegada" consegue ser uma imersão filosófica,
cientifica e humana ao mesmo tempo, ao decorrer do longa, através de diálogos
sutis, você vai entendendo toda a narrativa, o auto conhecimento da personagem
e a critica social que o filme quer fazer. Tudo isso, lentamente, acompanhando
o ritmo do longa.
"Somos um mundo sem um líder único. É impossível lidar com apenas um de nós." Louise Banks
Várias vezes Louise dá uma aula sobre língua, comunicação
verbal e não verbal, usando personagens do filme como gancho para essa
explicação e não explicando várias vezes os conceitos, sem diminuir a
capacidade intelectual da audiência, o que não se vê muito atualmente. Filmes
ousados o suficiente para supor que a audiência, aquele publico especifico,
conhece alguns conceitos da ficção cientifica e da filosofia em geral.
O tratamento humano aqui é excepcional, personagens com profundidade
e alguns nem tanto assim, reforçando que a narrativa é contada ao ponto de
vista da protagonista. Poucas vezes há uma pausa pra Amy Adams e ela não
aparece em cena. Por falar em Amy Adams, vamos falar do seu trabalho aqui:
Louise Banks é mais que apenas uma protagonista. Ela é a salvadora da raça humana, ela é a super-heroína, ela recebe uma "ferramenta" capaz de te fazer ver além do tempo, observar o tempo através da linearidade padrão de inicio, meio e fim. Durante os três atos do filme, vemos vários "flashes" do que te induz a pensar ser um passado não muito distante, sobre uma filha de Louise que morreu devido a uma doença sem cura. O pai dessa suposta filha, nunca é mostrado nesses flashes, apenas pequenas menções que deixam a entender um suposto abandono da mesma.
Sempre deixando muitos "por quês" durante o
caminho que a narrativa vai tomando, "A Chegada" fala sobre como a
manipulação midiática existe e está presente aqui e como a humanidade sempre
caminha para a auto-destruição. Os Heptapods não fazem parte do grande plot,
mas servem como ponte para chegar até lá. Eles estão lá, parados em 12 partes
do planeta, apenas tentando se comunicar, passar uma mensagem, oferecer uma
ferramenta e o próprio ser humano facilita nesse momento, usando de sua
prepotência, um grupo de soldados desse acampamento militarizado, base desse
estudo para com os visitantes, são manipulados através da mídia, planejando um
atentado com os visitantes. A partir daí, Louise revela que não sabe com o que
ela está alucinando, que não conhece essa garotinha que atormenta em seus
"flashes".
"Sinto que tudo o que acontecer depende de nós dois." Louise Banks
E se o ser humano fosse capaz de ver além do tempo? e se
algo que você fizesse hoje, um gesto, uma palavra, um suspiro, despertasse em
você algo que irá acontecer, não algo que já aconteceu. Poder viver duas vezes
todas as emoções da sua vida, desde o casamento com a pessoa que você tanto
ama, quanto o divórcio e a perda de um filho? Como você se sentiria? O que
faria se soubesse que sua filha vai morrer e você sabe como, onde, e quando.
Você viveria isso? viveria com isso?
Revelando sua principal reviravolta, ao final do terceiro ato, Louise tem a opção de viver aquela historia horrível onde ela se casa com Ian e tem uma filha com ele que morre 15 anos depois, passar por todas as dores da separação e morte da filha, a personagem se vê encurralada, ela não precisa escolher casar ou não com Ian, por que afinal de contas, ela já casou e já viveu tudo isso.
A trilha sonora merece destaque. Não é exagerada como em
alguns filmes do gênero, mas cumpre seu papel como acompanhamento da trama que
se multiplica em cenas de tensão, suspense, drama e ficção cientifica. É bom
saber que a música que é tema inicial e final do filme, não faz parte da trilha
sonora original criada por "Jóhann Jóhannsson", e sim, um empréstimo
de outro compositor: "Max Richter" que trabalhou em "The
Leftovers". Série que mora no meu coração.
"A Chegada" finaliza deixando uma mensagem
positiva e esperançosa pra raça humana. Apenas o ser humano é capaz de salvar a
si mesmo. Denis Villeneuve se consagra um dos melhores diretores da atualidade
e consigo, leva "A Chegada" como um dos melhores filmes de 2016 (se
não, o melhor), uma obra prima da sétima arte. Resta saber se ele conseguirá
inovar (como Ridley Scott inovou em 1982), com a sequência de "Blade
Runner".
No Oscar 2017, "A Chegada" está indicado à:
No Oscar 2017, "A Chegada" está indicado à:
- Melhor filme;
- Melhor diretor;
- Melhor roteiro adaptado;
- Melhor fotografia;
- Melhor edição/montagem;
- Melhor design de produção;
- Melhor edição de som;
- Melhor mixagem de som;
TEORIAS:
- Ao saber que essa ferramenta de poder ver através do tempo existe a muitos anos na humanidade, se grandes nomes da ciência ou até mesmo da Bíblia, fossem capazes de ler o tempo e reconhecer seus futuros acontecimentos. Jesus Cristo, por exemplo, enquanto era crucificado, não agiu contra. Ele sabia o que aconteceria desde o principio, ele sabia quem o iria trair e que ele iria passar por toda aquela dor e sofrimento. Ou até a teoria mais clichê de todas, "Edward Aloysius Murphy", criador da Lei de Murphy, diz que "se algo pode dar errado, dará" fazendo alusão a algum futuro que não importa o que você faça, ele vai acontecer.
- O filme aposta muito na ideia de que o ser humano precisa de um inimigo em comum para se unir, aqui mais do que nunca vemos casos extremos de patriotismo e falta de empatia para com o desconhecido. E é essa "chegada" de um ser extraterrestre que causa essa sensação, ainda que num segundo momento, sobre um inimigo que precisa ser combatido, a humanidade contra ela mesma.
- Não se espante com possíveis comparações de "A Chegada" com "Interestelar" de Christopher Nolan, os dois trabalham o mesmo tema, mas de formas distintas. "Interestelar" vê o tempo como algo moldável em que uma civilização humana futura consegue quebrar as três dimensões conhecidas hoje, adcionando mais duas, o espaço e o tempo. Como embasamento de sua tese temporal. E que funciona apenas para o passado (que sabemos).Já "A Chegada" trata do tempo como algo não linear, e impossível de mudanças. Apostando em seres extraterrestres como o provedor dessa ferramenta mágica de visualização do tempo não linear.
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