segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Sherlock 4° Temporada - Crítica


Dois anos ou mais, é o tempo em que o fã de Sherlock aguarda ansiosamente por uma nova temporada, isso desde 2010. Mas faz sentido, o show conseguiu adoradores apenas pela qualidade técnica excelente dos episódios com alguns roteiros primorosos e geniais. Isso até a 4° temporada.
ATENÇÃO: 
VÁRIOS SPOILERS DA 4° TEMPORADA DE SHERLOCK!





Após a longa espera pela 4° temporada, a BBC resolve em um especial de Natal, saciar um pouco a sede dos fãs fervorosos que só queriam sentar e assistir uma hora e meia de Holmes e companhia desvendando algum caso. E foi isso que aconteceu.

Particularmente, o episódio especial de Natal (A Noiva Abominável), trouxe um fôlego a mais pra série, que mais do que nunca precisava. Mark Gatiss e Steve Moffat, conseguiram levar toda a trama de Sherlock para a era Vitoriana sem perder o ritmo e o contexto que a narrativa construiu até aquele momento, adaptando "O Problema Final" do jeito "Sherlock" de se fazer. Misturando varios contos de Conan Doyle em apenas uma trama.















A trama se passar na era Vitoriana, não se passar de uma alucinação de Sherlock, soa um pouco clichê, podendo ser um episódio a parte da narrativa principal que envolve Moriarty e etc, um spin off, se desprendendo de tudo construído até agora. Um episódio especial de Natal tem essa finalidade, inovação, reinvenção e isso não aconteceu. Mas a qualidade técnica incrível, como sempre, salva esses roteiros duvidosos, que perduraram desde a terceira temporada.

A sensação que temos até aqui é de que acabaram a fonte das boas histórias que Gatiss e Moffat estavam contando. A perda considerável de audiência no Reino Unido também parece ter, também, afetado o rendimento do Show.

Um ano após a exibição de "A Noiva Abominável", Sherlock estréia com mais três novos episódios em uma nova temporada. Infelizmente, começamos com o pé esquerdo.



"As Seis Thatchers" intitula o primeiro episódio dessa temporada, que causou uma confusão na cabeça de quem acompanha a série a mais tempo, ou assistiu todos os episódios mais de uma vez. A sensação de que não estávamos assistindo Sherlock, era constante. O episódio começa exatamente de onde "A Noiva Abominável" parou, Holmes não precisa sair do país e o assassinato que ele cometeu foi acoberto por Mycroft que precisava da ajuda do detetive mais uma vez.




















A partir daí o episódio se perde na "chuva" de Mary, Jhon e Rose na nossa cara, tentando encaixar Sherlock nessa bagunça toda aí. Acaba que Gatiss e Moffat não conseguem usar Mary de alguma forma boa, quase impossível. Tudo tava muito claro desde o começo, não tinha mistério, tinha muita ação, troca de tiros e explosões mas não tinha quase nada de Sherlock desvendando algum mistério. Aí que o episódio se perde dando atenção demais não para o que ela é e sim para o que ela se tornou. Transformando Sherlock num personagem mais humano, sentimental e menos racional, lembrando que a essência do personagem tanto por Gatiss e Moffat, quanto por Conan Doyle é um personagem extremamente racional (UM SOCIOPATA FUNCIONAL).

Alimente isso com uma pessima direção, montagem confusa e péssimos efeitos visuais (e olha que Sherlock sempre foi referência nesses dois últimos). O episódio termina apenas um "OK", não é a pior coisa que já vi na minha vida, mas é extremamente abaixo do que a série construiu até aqui.


Seguindo, "O Detetive Mentiroso" serviu como fôlego pro terrível episodio anterior. O episódio ainda carrega fardos do episódio anterior, como a morte de Mary e a repercussão disso para com os personagens. A morte de Mary se já não parecia um plot no meio de muitos daquele episódio, agora se tornou um fardo para mudar aqueles personagens. Ainda teremos que arrastar Mary na cabeça de Watson e no computador de Sherlock durante todo o episódio, mas a narrativa principal e o vilão principal, alivia muito bem toda essa palhaçada envolvendo Mary e sua morte. Toby Jones se dá bem nesse episódio, ele atua como ninguém é entrega um vilão de primeira, como Moriarty é.















Aqui os roteiristas parecem não ter poupado esforços pra criar um bom vilão. Os efeitos visuais desse episódio me fazem lembrar do por que eu me apaixonei pela série, as atuações de Freeman e Cumberbatch estão no seu auge. Não há como negar a importância da série na atualidade, e como ela é referências para muitos. Fica claro, ao final desse episódio, a mensagem que os roteiristas querem deixar para esses personagens. Uma evolução, assim como qualquer humano, eles precisam evoluir. Holmes precisa se tornar mais humano, mais irracional e Watson precisa ser essa pessoa, o amigo e companheiro do mesmo. E que afinal de contas, Mary não serviu pra nada nessa brincadeira (vou falar disso mais a frente). O segundo episódio finaliza com um saldo positivo pra mim, mas ainda numa temporada com um saldo extremamente negativo.


Fechando a temporada com "O Problema Final", Sherlock é extravagante no que faz. Mais do que nunca. Aqui talvez a tentativa mais boba que a dupla de roteiristas teve: tentar amarrar todas as quatro temporadas desde o começo, e é exatamente aí que mora o erro. Seguindo com algumas ações um pouco "fora do comum" pro personagem, eu vejo ele em transição. Numa espécie de conflito interno onde ele é o Sherlock racional em alguns momentos e o Sherlock irracional em outros, uma bagunça. Toda a ideia de relevar a importância de Watson na vida dele, de como ele importava com os outros na infância, de toda a história da irmã dele, serviu pra que o personagem mudasse, evoluísse (tente imaginar Sherlock sendo calmo e paciente com a "criança no avião" umas temporadas atrás). Isso fica bem claro nessa temporada, disseminando o pouco dessas pistas que a terceira deixou. Sian Brooke cumpre bem o papel de Eurus, a irmã esquecida de Sherlock.
Em alguns momentos ela consegue mesmo causar tensão nas cenas, em outros ela tenta ser uma vilã diferente e melhor que toda a série e ela acaba se perdendo. Ela forçando Sherlock a ligar pra Molly usando um caixão pra representar um dos mini-jogos foi desnecessário. A grande espectativa criada quanto a volta de Moriarty se quebrou depois de uma entrada grandiloquente ao som de Queen, Andrew Scott entrega um excelente personagem mais uma vez, mas é prejudicado pelo roteiro preguiçoso de quem já não sabe o que está fazendo. A participação de Moriarty só não passou de um easter egg, uma tentativa frustrada de reunir tudo que a série construiu e marcar um "concluído" no check-list da série. Ficando claro, mais uma vez, que essa não era a ideia inicial.


Sherlock parece não voltar para uma quinta temporada, está bem claro isso. O clima dos últimos dez minutos do episódio escancara isso pra você, e desmente tudo o que se pretendia até agora. Mary, (em mais uma enjoativa mensagem pós morte) termina dizendo que os personagens são o que são e sempre serão assim.

"Sherlock sempre será um viciado que resolve crimes pra ficar chapado e Watson sempre será o Doutor que nunca voltou da guerra" _Mary Watson

Em outras palavras, tudo o que a série se tratou dá terceira temporada pra cá, não importou. O que importou mesmo foi a criação da lenda que Watson e Sherlock são/serão. Jhonlock acabou não acontecendo do jeito que a gente esperava, mas a dupla de roteiristas fizeram questão de ouvir o público. Mesmo negando escrever a série para agradar o público.



Sherlock termina com um saldo bem negativo, estou lidando como o fim da série mesmo. Com uma temporada bem ruim, cheia de falhas e faltando a essência de alguns personagens. Mas salvo Mr. Hudson, Culverton Smith e Sian Brooke se destacaram em suas atuações, mas não foram favorecidas pela história que lhes foram dadas.


Indo na onda do que a série fez conosco nesse final, tudo o que eu disse aqui, não importa. O que importa mesmo é que Sherlock me deliciou com incríveis episódios de qualidade bem acima da média e que nos fez apegar tanto a esses personagens, que é impossível desapegar.



NOTA DA TEMPORADA: 3/5

NOTA DA SÉRIE: 4,5/5

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